Coletivismo: a grande chave de Sustentabilidade



Algumas das grandes motivações das críticas e perseguições burguesas ao comunismo histórico, passa ao largo dos moralismos conservadores de base religiosa, achando-se por exemplo no aspecto anti-consumista que apresenta o comunismo em geral, através da disponibilidade do compartilhamento de bens.
A expectativa da sociedade-sem-classes ou mesmo de um nivelamento comunista, presente em ideologias como o marxismo, leva muita gente ao desespero e até com razão. Contudo, o ideal comunalista representa muito mais do que uma ideologia histórica, ele é uma base cultural para certas classes sociais.
Nisto se encontra, pois, outra das preocupações para a hegemonia e o imperialismo burguês: o temor do ressurgimento de culturas 
pujantes e de sociedades tradicionais sobre bases socialistas ou coletivistas. 

Contudo, nem todas as sociedades marcham na mesma direção, e neste andejar necessitam atravessar etapas semelhantes de organização socioeconômica, sob pena de terem as suas estruturas socioculturais subdesenvolvidas e suas civilizações abortadas, dependentes ou colonizadas.
Em nossos dias, existem razões especiais para o coletivismo: uma sociedade-de-massas consumindo desbragadamente está produzindo um caos incontrolável! 
Devido à alienação ideológica de tantos, da insanidade da burguesia e da cultura-de-massa, movidas sobretudo pelas pressões econômicas externas, se torna todavia imperativo buscar refúgios para a sobrevida moral e intelectual da nação, cada vez mais cerceada pela mídia capitalista corruptora.
Nem por isto, pretenderemos que todos se sujeitem ao comunalismo, somente aqueles que julguem dever fazê-lo por razões econômicas, culturais e espirituais. E sem dúvida, o exemplo destes já muito poderia ajudar o todo, salvo que as ideologias burguesa e materialista sejam contrárias também a isto...
Alguns sempre desejarão naturalmente viver de forma mais ou menos grupal e sustentável.  Através de mutirões se consegue eliminar boa parte das necessidades de serviços, ademais há que se contornar o preconceito burguês contra o trabalho físico e rural. Quem viveu em comunidade, sabe que grande economia de tempo e de energia podem chegar a representar as diferentes formas de mutirões!
Talvez estas pessoas criem uma espécie de neomedievalismo, devidamente adaptado aos tempos atuais, concedendo por exemplo mais terras aos organismos coletivos e para as organizações ambientalistas, a fim de suprir pelo menos três tipos de demandas:

a. A carência econômica dos mais pobres;
b. As necessidades culturais de setores idealistas;
c. as urgências de preservação bruta das espécies nativas.

Outros -como uma futura "burguesia esclarecida"- poderão viver numa sociedade rotulada de “verde” por não trazer um impacto muito agressivo sobre o meio-ambiente, mas ainda assim haverá impacto. Este será provavelmente um mundo algo semelhante ao “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, onde dominará o artifício e a tecnologia.

Um olhar sobre a sociedade feudal


Do ponto de vista tradicional, as únicas classes sociais que possuem na sua cultura a vocação para realmente compartilhar são a aristocracia e o clero, e isto por razões técnicas e culturais. Como estas classes tendem essencialmente ao despojamento, elas necessitam aproveitar ao máximo os recursos existentes, e ainda valer-se de recursos de uso comum, por razões econômicas, de segurança, etc.
Neste aspecto, o clero é a classe onde este ideal emerge com maior naturalidade e necessidade. Nisto, soa curioso atribuir-se justamente aos proletários –que é a classe mais distante culturalmente do clero- a capacidade de organizar uma sociedade coletivista, como querem os marxistas. Onde se poderia encontrar referência para tais pretensões? Acaso seria nas sociedades indígenas ou bárbaras? 
Mesmo ali as coisas não seriam bem assim...
Na estrutura econômica medieval, os senhores feudais não eram proprietários a princípio, mas sim donatários. Existe até quem veja traços autenticamente socialistas no feudalismo, a saber:
“Para o economista anarco-capitalista Hans Hermann Hoppe, como os feudos são supostamente propriedade do Estado (neste caso, representado pelos senhores feudais), o feudalismo é, consequentemente, considerado por ele como sendo uma forma de manifestação socialista - o socialismo aristocrático (servismo).” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Feudalismo)

Todavia, existe o mito difuso de que na Idade Média não havia a burguesia. Ora, desde o final do Império Romano, havia sempre muitos pequenos proprietários de terras -mas que pouco a pouco foram cedendo suas terras aos senhores feudais e à igreja por razões de segurança. Vale lembrar que a atividade agropecuária definia a classe dos comerciantes (vaishyas) na Índia. Esta é a origem comum dos vilões, os habitantes das vilas que mantinham relações especiais com os senhores feudais.
Seguramente existia um comércio mínimo, geralmente realizado na forma do escambo, é verdade. Muitos aldeões se dedicavam a estas atividades, caracterizando um rudimento de burguesia. O fato é que o feudalismo mantinha a burguesia com rédeas curtas, afinal era premissa da religião o desapego dos bens materiais. Por extensão, se alcançava também um bom nível de sustentabilidade ou, como se dizia então, o "dom-de-mundo"... Neste sentido, muitos dos atributos do feudalismo seguramente atrairiam os ambientalistas:
“As características gerais do feudalismo são: poder descentralizado, economia baseada na agricultura de subsistência, trabalho servil e economia amonetária e sem comércio, onde predomina a troca (escambo). Tudo isso só será modificado com os primeiros indícios das Revoluções Burguesas.” (op. cit.)


Com relação ao proletariado –melhor dizendo, ao campesinato-, a sua situação era variável. Havia pouca mobilidade ou ascensão social, contudo, havia certa possibilidade dos servos penetrarem no clero, onde a mobilidade já era mais notória. Este quadro lembra novamente a situação da Índia antiga, onde era dada a possibilidade de sair do sistema de castas através das atividades espirituais.
Neste aspecto, havia o estímulo tácito para as pessoas se dedicaram à espiritualidade ou se abrigarem na esfera religiosa, buscando serviços a fim de auxiliar no bom andamento da Igreja. Contudo, quando a burguesia começou a crescer criando os burgos, os camponeses começaram a optar por realizar serviços a eles, esvaziando e enfraquecendo os feudos da nobreza e do clero.
A burguesia sabe ter o seu discurso polido, mas no fundo aquilo que vale é o culto das vaidades. Já as classes realmente cultas e esclarecidas, costumam fazer andar a roda da História verazmente para a frente era após era. São elas que criam as grandes Civilizações, as quais somente bem mais tarde, quando as coisas finalmente se esgotam e envelhecem, os oportunistas vêm se apoderar.


* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
Contatos: webersalvi@yahoo.com.br 
Fones (51) 9861-5178 e (62) 9776-8957

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