Nacionalismo – impasses e perspectivas



Uma rápida olhada nas Enciclopédias, já demonstra a diversidade das divisões -ou dos fundamentos- do Nacionalismo em geral. Existe o Nacionalismo étnico, o cívico, o social, o “anticolonialista”, o territorial, o ultranacional...
Isto significa que, através dos tempos e das situações, o Nacionalismo também terá se caracterizada ou matizada por uma ou por outras destas divisões –todas elas mais ou menos legítimas, pese as distorções eventualmente ocorridas, coisa nada rara em matéria de política e ideologias... desde a Revolução Francesa –onde aliás alguns situam as origens do nacionalismo-, sabemos como é fácil as coisas sair do controle nestas matérias.


Direita ou esquerda”?

Por isto mesmo, fica difícil classificar o Nacionalismo de uma forma mais simplista ou homogênea. A depender disto, o Nacionalismo poderá se afigurar mais renovador ou mais conservador. O fato do capitalismo ser liberal, mutável e corrosivo (numa espécie peculiar de “revolução permanente”, como não hesitaria Marx em classificar) torna o quadro ainda mais complexo. Uma eventual defesa dos valores morais, logo pode colocar o nacionalismo (e o próprio marxismo) até à direita do próprio capitalismo...
Tal como sucede entre a aristocracia guerreira, no nacionalismo a liberdade tampouco representa um valor absoluto. Dizemos daí que, se para os anarquistas a liberdade é um valor, para os nacionalistas o valor é que representa uma liberdade...
Em termos tradicionais, a ideia de “nação” tem origem nos clãs tribais, nas sociedades tradicionais e nas culturas originárias, e mais concretamente na forma dos países antigos e também nas nações medievais (a começar com Portugal) e do Renascimento, de modo que se acha presenta nas bases e nas fundações da civilização.
Bastante enaltecida pelo filósofo Hegel, o Nacionalismo representa uma doutrina de tendências idealistas e integradoras. Da mesma forma como o verdadeiro nacionalismo social representa uma versão inocente de nacionalismo (ainda que as outras tampouco tenham que ser enfermiças), tal expressão também representa uma versão íntegra ou integradora de socialismo para além da luta-de-classes –ver nossa matéria “As duas grandescorrentes do Socialismo”.
O Nacionalismo social possui grande importância na formação das nações, como uma essência criadora mas também protetora; através dele se trata de formar a consciência cidadã e armar ideologicamente a nação contra a alienação cultural.



Com isto, não estamos a afirmar que depois da sua “formação”, as nações deverão adotar algo como o capitalismo ou mesmo o marxismo: todos os traços do “materialismo dialético histórico”, apenas pode aparecer com alguma legitimidade na curva descendente da História, milênios após a eclosão de uma nova civilização mundial sob a égide da Unidade Social e do pensamento holístico!
Aquilo que acontece na verdade então, depois do nacionalismo, é o surgimento de outras ideologias ainda mais ricas e inclusivas, para as quais o nacionalismo serve de húmus, da mesma forma como mais tarde ele poderá expressar o saudosismo de épocas supostamente melhores ou de maior integração cósmica, podendo trazer também os riscos do romantismo superficial.
O Nacionalismo étnico –que se confunde com o patriotismo e pode redundar na xenofobia- pode ser evocado nas crises morais e como propaganda ideológica contra doutrinas neutras ou espoliativas em nações fortes; o Nazismo o usou como pretexto para escravizar os judeus.
Existe hoje certo revisionismo ideológico buscando ressituar o Nazismo à esquerda, pese certas posições conservadoras desta doutrina. Por outro lado, o “mesmo” Nacionalismo terá auxiliado a libertar muitas nações do jugo conservador e reacionário, especialmente do próprio colonialismo. E a Revolução Francesa -terá sido burguesa ou nacionalista, ou mesmo ambas? As análises dos historiadores e sociólogos também se dividem a este respeito.
Olhando as coisas com a mínima atenção, veremos no entanto que o mesmo Nacionalismo terá sucumbido en bloque ao neo-colonialismo da Guerra Fria –muito embora alguns se recusem a admiti-lo em função do envolvimento de ideologias socialistas neste processo, em boa parte do mundo.
Será que o mesmo Nacionalismo terá capacidade de se libertar uma vez mais desta nova onda colonial planetária –na prática dominada hoje pelo capitalismo, pese a força crescente da China comunista?


As hipóteses da fênix

Á primeira vista a resposta para isto seria um rotundo “não”, já que se caiu pode voltar a fazê-lo, mesmo sem uma Guerra Fria de pretexto para combate-lo. O mais difícil mesmo parece ser reerguer-se das suas cinzas, pese haver hoje várias restaurações nacionalistas mundo afora, todavia em nações sem maior expressão mundial.
O marxismo –quiçá sob novas vestes- insiste igualmente em marcar a sua presença, disseminando-se como vírus oportunista em locais onde o nacionalismo sucumbiu sob a força do capitalismo, ao passo que o quadro se inverte em regiões de antigo domínio marxista, disseminando assim mundo afora o “materialismo dialético histórico” de matriz europeia, de caráter neo-colonialista. Porém, considerando que a grande base ocidental do marxismo tem sucumbido –mesmo ideologicamente-, sua carcaça fétida devidamente “perfumada” possui no entanto glamour suficiente para seduzir outras partes do mundo; até pela falta pura e simples de opção. O capitalismo resiste a ceder, porém acata melhor uma esquerda medíocre e corrupta -dentro da volúveis “regras democráticas”- que um ameaçador dragão nacionalista...
O Nacionalismo nem sempre compactuou com a farsa da “democracia” –ali onde ela quase não passa de demagogia, devidamente aparelhada e direcionada por esquemas viciados de poder. Contudo, Hitler ascendeu pelo voto e Getúlio Vargas pelo golpe, comum no caudilhismo latino-americano. Porém, o Nazismo levou a Alemanha à bancarrota final (e a uma Guerra Mundial), e o getulismo (ou sua herança, já plenamente democrática) modernizou o país e sucumbiu apenas sob os golpes da oposição...
Enfim, já dizia o próprio Marx,” a história se repete, primeiro como tragédia, depois como comédia.” Talvez o Brasil atual seja uma tragicomédia...
Por isto a História necessita se renovar. De qual forma? Várias ideologias ensaiam novos passos, enquanto outras apenas requentam velhas ideias ou tentam dar-lhes novas roupagens. A falta de raízes profundas e de identidade compromete estas iniciativas.
Será possível um ressurgir de alguma antiga ideologia, renovada? Provavelmente esta seria a tendência. O ambientalismo emerge como uma necessidade crescente, e ali mesmo receberá versões distintas. Fala-se por exemplo de “tecnologia verde”, de “ecosocialismo” e de “preservacionismo”. Seria possível encontrar uma associação primária destas “versões” com o capitalismo, o socialismo e o nacionalismo, respectivamente.

O primeiro cenário poderá nos levar ao “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, artificial embora controlado, e voltado para o “bem viver” em certa escala.
O segundo cenário poderá nos manter atados ao ambientalismo burocrático de gabinete, às negociatas pseudo-ambientais e ao relativismo cultural.
E o terceiro cenário poderá propor uma moratória nos ideais de progresso e um retorno aos valores humanos sustentáveis, com ênfases educacionais.
De todos estes, é no último que apostamos as nossas fichas –devidamente amparado pelas tradições nativas quiçá ainda vivas-, como o melhor para a América Latina em especial, pese ter que enfrentar mais uma vez poderosas tendências que prevalecerão em outras partes do mundo, embora as crescentes crises ambientais possam vir a abreviar ou debilitar as trajetórias materialistas.

Esta será a fênix nacionalista que entrevemos para o Novo Mundo em especial –uma “fênix verde”!

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